Apesar de a Caixa possuir seu próprio aplicativo, que dá acesso ao extrato das contas do FGTS, o G1 identificou mais de 30 outros serviços nas lojas virtuais do Google e da Apple.
beração do saque das contas inativas do FGTS deixou não apenas os trabalhadores ansiosos para receber o dinheiro. Desenvolvedores de aplicativos que tratam do serviço também surfam na onda e registram alta nos downloads e na receita. A companhia com mais apps do gênero, por exemplo, viu seu faturamento saltar 22 vezes e chegar a R$ 70 mil mensais.
Apesar de a Caixa Econômica Federal (CEF) possuir seu próprio aplicativo, que dá acesso ao extrato das contas do FGTS, o G1 identificou mais de 30 outros serviços nas lojas virtuais do Google e da Apple. Para Android, o sistema operacional do Google usado por mais de 90% dos smartphones brasileiros, são oferecidos 29 aplicativos. Já para iOS, da Apple, são apenas três.
Ingrid Marques Borba e o marido Douglas Eduardo Rodrigues Farias, fundadores da ID Desenvolvimento, que cria aplicativos para smartphones (Foto: Arquivo Pessoal)
O governo anunciou em dezembro a liberação do dinheiro do FGTS de quem tem saldo em uma conta inativa do fundo de garantia até 31 de dezembro de 2015. Uma conta fica inativa quando deixa de receber depósitos da empresa devido à extinção ou rescisão do contrato de trabalho. O trabalhador deve estar afastado desse emprego pelo menos desde o fim de 2015. O trabalhador, no entanto, não pode sacar o FGTS de uma conta ativa, ou seja, que ainda receba depósitos pelo empregador atual. Veja aqui o tira-dúvidas sobre quem tem direito a sacar.
Segundo a Caixa, o calendário com o cronograma de pagamento, que será de acordo com o aniversário do beneficiário, sairá nesta semana. De acordo com a GloboNews, o governo vai divulgar o cronograma nesta terça-feira (14) em solenidade no Palácio do Planalto. Quem nasceu em janeiro e fevereiro vai receber o dinheiro em março.
A gaúcha ID Desenvolvimento é responsável por sete dos serviços oferecidos na Google Play. Aberta pela desenvolvedora Ingrid Marques Borba, técnica em informática de 21 anos, e o marido, Douglas Eduardo Rodrigues Farias, de 24 anos, a empresa está por trás da Basic4Brasil, que possui 51 apps na loja do Google, a maioria sobre serviços do governo, como IPVA, Imposto de Renda e Bolsa Família.
As ideias de um novo serviço surgem a partir do noticiário. “Fico atenta às notícias, daí atualizo o que mudou ou faço outro [aplicativo]”, conta Ingrid. Tiradas da internet, as informações são compiladas antes de compor as várias sessões dos apps. O desenvolvimento de todo o programa, diz ela, não dura mais que um dia. “Todos [os aplicativos] são informativos. A minha intenção é levar informação para o usuário. Eu não sei muito programar, porque a programação é meio difícil. O que eu sei dá pra tirar uma renda, que é o nosso salário.”
Esses vários aplicativos sobre FGTS surgiram antes do anúncio da liberação do saque do dinheiro de contas inativas. Mas só deslancharam depois de o presidente Michel Temer anunciar a novidade em dezembro do ano passado.
Ingrid conta que, se até então faturava aproximadamente R$ 3 mil por mês, desde que a liberação do dinheiro foi anunciada passou a ter receitas mensais que giravam entre R$ 50 mil e R$ 70 mil – por dia, a empresa chega a ganhar US$ 1 mil. O lucro vem de anúncios veiculados nos apps por um programa do Google, que remunera os serviços de acordo com sua audiência. Os sete serviços da Basic4Brasil de FGTS recebem 250 mil visualizações por dia – só o “FGTS Inativo” é visto 100 mil vezes por dia.
Enquanto os aplicativos da Basic4Brasil exibem apenas orientações, como quem são as pessoas contempladas pela liberação do saldo do FGTS e como consultar o extrato das contas, outros serviços chegam a dar acesso a informações operacionais, como saldo.
É o caso “Consulte FGTS”, desenvolvido pelo professor universitário Cleanderson Lobo, de 28 anos, de Fortaleza, no Ceará. O app informa o saldo das contas no FGTS desde que o usuário forneça o NIS (PIS/Pasep), número de identificação social do trabalhador, e a senha de acesso.
Atualmente o 22º serviço mais procurado da Google Play, o “Consulte FGTS”, no ar desde julho de 2016, surgiu após Lobo mudar de emprego. “Até então eu nunca tinha consultado o FGTS na minha vida. Aí eu senti na pele os problemas”, diz. “Tem erros cadastrais. Quando eu fui criar minha carteira de trabalho, cadastraram o nome do meu pai errado”, ri. “Quando vai criar sua senha, você coloca o nome do seu pai e diz que está errado. Aí a Caixa bloqueia durante sete dias e você tem que fazer uma nova tentativa. Eu ficava até assim: ‘Eu só posso ser retardado, porque nem o nome do meu pai eu sei direito’”, brinca.
Por isso, ele divide o dia entre a sala de aula e a dupla função de aprimorar o app e ouvir reclamações de usuários. “Passo praticamente o dia todo respondendo comentários e reclamações de usuários, sou quase um canal de 0800”, brinca sobre o sucesso de ter 20 mil downloads por dia só do “Consulte FGTS”, que já responde por 50% de seu faturamento.
Ao todo, seu portfólio é composto por 17 apps, que já foram baixados mais 3 milhões de vezes. Mas não sem suor. Às 7h da última quinta-feira (9) já estava na sala de aula, de onde saiu às 19h para voltar para casa e só terminar de trabalhar no app às 6h de sexta-feira (10).
Lobo diz que “o app acessa os dados da Caixa e traz os dados do extrato”, mas não oferece o cadastro de senha. “Para mim, o melhor é a pessoa fazer isso em um ambiente seguro da Caixa”, afirma.
Dados não ficam armazenados
Outros aplicativos também acessam os dados da Caixa e traz os dados do extrato. Para isso, no entanto, têm de receber dados sensíveis dos trabalhadores, como título de eleitor, CPF, entre outros. O que esses aplicativos fazem é nada mais do que coletar as informações pessoais para acessar os servidores da Caixa. Em posse deles, consultam informações do FGTS e as exibem em suas plataformas. Alguns, como o “FGTS Fácil”, da Outfall Inc, procuram tranquilizar os usuários quanto ao uso desses dados e afirmam que não armazenam as informações - elas ficam guardadas no próprio celular do usuário para facilitar acessos futuros, garante.
A Caixa orienta que o canal usado seja sempre o serviço oficial. Afinal, as cifras envolvidas mostram o tamanho do risco. De acordo com o Ministério do Trabalho, atualmente existem 18,6 milhões de contas inativas há pouco mais de um ano, onde estão depositados cerca de R$ 41 bilhões.