Ar-condicionado: Em busca da temperatura ideal
ULTIMAS NOTÍCIAS
Publicado em 22/01/2018

No verão, o uso de climatizadores se intensifica na tentativa de amenizar o calorão ocasionado pelas altas temperaturas. Porém, a solução para o problema pode ocasionar outras complicações para a saúde quando o aparelho for utilizado da forma incorreta 

Basta caminhar pelo centro da cidade para notar a presença unânime do ar-condicionado pelos prédios e arranha-céus que compõe a selva de pedra. O número de aparelhos praticamente supera a quantidade de janelas e outras aberturas, que por ventura, proporcionam a passagem de ar ou de uma brisa sequer. No verão, os climatizadores não ganham descanso durante o dia e possuem um papel ainda mais fundamental durante a noite, quando o conforto de uma temperatura agradável proporciona horas seguidas de sono. Contudo, sair de um ambiente externo e adentrar uma sala climatizada pode causar prejuízos para a saúde e potencializar o aparecimento de doenças respiratórias, conforme defendem especialistas na área.

De acordo com o pneumologista que atua junto ao corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo, Vinícius Dal Maso, alguns cuidados devem ser observados na utilização do aparelho. “O uso do ar-condicionado pode levar a redução da umidade, promovendo ressecamento das mucosas no nariz e dos brônquios. A falta da limpeza periódica dos aparelhos aumenta a contaminação por fungos, bactérias e a exposição ao ácaro”, comenta. O item relacionado a limpeza dos filtros é um dos principais causadores de problemas respiratórios. “A falta de manutenção dos filtros e ductos internos, com certeza, é um dos principais motivos devido o acúmulo de bactérias e fungos. Entretanto, a temperatura escolhida e o tempo utilizados também podem contribuir para descompensação das doenças alérgicas, principalmente a rinite e a asma”, ressalta Dal Maso.

Em dias de sol intenso, as temperaturas externas passam dos 30ºC ao passo que os ambientes climatizados sempre operam em uma diferença significativa de temperatura, o que pode causar o popular “choque térmico”. “As mudanças bruscas aumentam os riscos de infecções respiratórias e a chance de descompensação de problemas respiratórios já existentes”, pontua o especialista. Neste caso, o ideal seria programar a temperatura apenas um pouco mais baixa que a temperatura externa. “Deve-se evitar utilizar na potência máxima nos dias muito quentes devido as mudanças bruscas entre os ambientes já comentada na questão anterior. Uma diferença de dez graus abaixo da temperatura externa já é suficiente para trazer conforto”, destaca Dal Maso.

Guerra dos sexos da temperatura

Para quem costuma dividir o ambiente de trabalho com colegas de ambos os sexos, a briga pelo “controle” da temperatura é assunto recorrente. A história de que mulheres “sentem mais frio” do que os homens pode ter explicação científica, de acordo com o pneumologista. “Já houve estudos para essa avaliação. Destaca-se um estudo inglês que demonstrou que a média de temperatura considerada mais confortável para mulheres é dois graus e meio acima da temperatura desejada pelos homens. A explicação mais aceita é que a taxa metabólica média da mulher é menor que a do homem. O metabolismo é responsável pelo crescimento e produção de energia, incluindo calor”, explica. Independente do caso, deve-se utilizar a temperatura ideal para ambos e por tempo não prolongado. Seguir a recomendação de manutenção fornecida pelo fabricante do aparelho ou por seus representantes também é uma opção.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que qualquer sistema de climatização deve combater a carga térmica e proporcionar boa Qualidade do Ar Interior (QAI) para os ocupantes do ambiente climatizado. Para se garantir um ambiente climatizado saudável é fundamental que as taxas mínimas de renovação de ar exterior e níveis mínimos de filtragem, estabelecidos nas legislações e normas técnicas vigentes, sejam respeitados e que a limpeza e manutenção dos sistemas de climatização sejam efetuadas.

A principal medida de controle para se garantir uma boa QAI continua sendo a limpeza dos equipamentos e das casas de máquinas do sistema de climatização. Atenção especial deve ser dada aos filtros dos condicionadores de ar e às tomadas de ar para renovação de ar exterior. A limpeza ou mesmo a substituição dos filtros deve ser efetuada regularmente, conforme disposto no Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) do sistema de climatização.

A taxa de renovação de ar exterior é fundamental para o controle da QAI em ambientes com presença de um grande número de pessoas, como os salões de baile, ainda mais se levando em consideração que nesses locais as pessoas estarão se divertindo, dançando e se locomovendo com frequência. Estas atividades aceleram o metabolismo humano e consequentemente aumentam a emissão de gás carbônico, através da respiração, e de partículas no ambiente climatizado. Estes contaminantes, dentre outros, deverão ser retirados do ambiente pelo sistema de climatização, por meio da renovação e filtragem de ar.

O que diz a legislação

Para se calcular a capacidade total do sistema de climatização em um determinado estabelecimento basta somar a capacidade individual de cada equipamento. Por exemplo, consideremos um estabelecimento comercial que possua 5 (cinco) salas em um prédio comercial e cada sala possua instalado um aparelho de ar condicionado de janela de 12.000 BTU/h. A capacidade total da instalação será então igual a 60.000 BTU/h (5 equipamentos x 12.000 BTU/h por equipamento). Portanto, o ambiente climatizado cuja soma das capacidades dos equipamentos seja igual ou superior a 5,0 TR's deve atender a Portaria GM/MS nº. 3.523 de 1998 e a RE/Anvisa nº. 9 de 2003.

A resolução determina ainda a temperatura ideal para a utilização dos climatizadores. A faixa recomendável de operação das Temperaturas de Bulbo Seco, nas condições internas para verão, deverá variar de 23°C a 26°C, com exceção de ambientes de arte que deverão operar entre 21°C e 23°C. A faixa máxima de operação deverá variar de 26°C a 27°C, com exceção das áreas de acesso que poderão operar até 28°C. A seleção da faixa depende da finalidade e do local da instalação. Para condições internas para inverno, a faixa recomendável de operação deverá variar de 20°C a 22°C.

Texto: Daniel Rohrig

Fonte: Diário da Manhã.

Comentários